"O je je, O je je..." strummed years ago by comedian-singer Davide Riondino in his portrayal of Joao Mesquinho, an imaginary Brazilian singer-songwriter. It was a caricature: he spouted nonsense in a bizarre Italian-Portuguese, accompanying himself with a single guitar note. Amusing, but be cautious in thinking that Brazilian singer-songwriters conform to this standard (guitar, bossa nova, lazy and dragged voice).
Caetano Veloso seems born to refute this caricature: in the 36 years of artistic life summarized by this rich anthology (34 tracks, almost one per year), one can find so many colors, so many expressive modes, so many crossovers with Western music, that one is easily captivated by it. Not only that, but in a world of fleeting stars, thirty-six years of success are a rarity, and they are years lived intensely, in which Caetano, besides being a singer, has done it all: the writer, the opponent of the Brazilian regime, and, above all, he was a founder of Tropicalismo, a multimedia artistic movement ahead of its time, which involved various art forms.
All this inevitably reflects on his music, and in this collection, which doesn’t follow a chronological order, you may encounter "Sampa," a classic ballad for guitar and voice in the style of Joao Gilberto (and not Joao Mesquinho!), then immediately "Two Naira Fifty Kobo," a perfect fusion of Brazilian rhythm with African vocals worthy of Paul Simon's "Graceland," then a romantic and French "Dans Mon Ile," delicately Brazilianized with acoustic guitars and percussion, then back to the homeland with "O Leaozinho," an enchanted portrait inspired by his son playing on a beach. The landscape is never uniform: traditional songs, always of excellent craftsmanship ("Coraçao Vagabundo," "Sozinho," "O Ciume," and "Meditaçao," a classic by Antonio Carlos Jobim, the father of Brazilian music), alternate with modern European rock-infused songs like "O Estrangeiro," "Os Outros Romanticos," and "Maria Bethania" (dedicated to his sister, an excellent performer) with modern and elaborate rhythms, comparable to those of our own Fossati, who not coincidentally also draws heavily from South American music. From the carnival samba of "Chuva, Suor e Cerveja,” one leaps to the Fellini-like atmospheres of "Que Nao Se Vé" (partially in Italian), then to the tropical rap of "Haiti," and again to that splendid bridge between Brazil and the Mediterranean that is "Os Argonautas," with its Greek-flavored guitars. The same samba sometimes takes on gentler forms ("Nao Enche") or naively joyful ones ("Um Canto de Afoxé"). One is never really bored, and yet other facets of the multifaceted and polyglot Veloso remain unseen, such as the protester ("Enquanto Seu Lobo Nao Vein," "13 de Maio") and the pure experimentation, made of dissonances ("Doideca"), words and sounds ("Pulsar"), or just words ("De palavra em palavra"). Also original and splendid is "Muito romantico," with a choir that completely replaces the instrumental accompaniment. It's not over: there's still the ironic Veloso ("Superbacana," "Carcara"). To this latter belong also two brilliant examples of Brazilianization of Western hits: the Stones' "Let it bleed" and the commercial "Billie Jean" by Michael Jackson, so well treated as to lose its layers of plastic, transfiguring into a more human and slow bossa nova.
It's impossible not to leave out something from this review: the variety is such as to be disorienting. But there is a sure way to grasp it fully: to listen to this splendid summary of the art of a great in music, not just Brazilian, but worldwide.
Tracklist Lyrics and Videos
04 Chuva, Suor E Cerveja (03:24)
NÃO SE PERCA DE MIM
NÃO SE ESQUEÇA DE MIM
NÃO DESAPAREÇA
QUE A CHUVA TÁ CAINDO
E QUANDO A CHUVA COMEÇA
EU ACABO DE PERDER A CABEÇA
NÃO SAIA DO MEU LADO
SEGURE O MEU PIERROT MOLHADO
E VAMOS EMBOLAR LADEIRA ABAIXO
ACHO QUE A CHUVA AJUDA A GENTE A SE VER
VENHA VEJA DEIXA BEIJA SEJA
O QUE DEUS QUISER
A GENTE SE EMBALA SE EMBOLA SE EMBOLA
SÓ PÁRA NA PORTA DA IGREJA
A GENTE SE OLHA SE BEIJA SE MOLHA
DE CHUVA SUOR E CERVEJA
05 Os Argonautas (02:47)
O barco
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não.
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco
Noite no teu tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco, da madrugada
O porto, nada.
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio.
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver!
06 Haiti (04:20)
(F#m7 Bm7 G7)
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Bm7
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
Ebm7 Ab7 Fm7 Bb7
O Haiti é aqui
Ebm7 Ab7 Fm7 Bm7
O Haiti não é aqui
(F#m7 Bm7 G7)
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Bm7
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
Ebm7 Ab7 Fm7 Bb7
O Haiti é aqui
Ebm7 Ab7 Fm7 Bb7
O Haiti não é aqui
07 Sampa (03:20)
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende depressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mas possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.
08 Two Naira Fifty Kobo (05:04)
No meu coração da mata gritou Pelé, Pelé
Faz força com o pé na África
O certo é ser gente linda
E dançar, dançar, dançar
O certo é fazendo música
A força vem dessa pedra que canta Itapuã
Fala tupi, fala iorubá
É lindo vê-lo bailando
Ele é tão pierrô, pierrô
Ali no meio da rua lá
10 O Leãozinho (03:06)
Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
Um filhote de leão, raio da manhã
Arrastando o meu olhar como um ímã
O meu coração é o sol, pai de toda cor
Quando ele lhe doura a pele ao léu
Gosto de te ver ao sol, leãozinho
De ter ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba
Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você
E entrar numa
13 Cucurrucucú Paloma (03:46)
Dicen que por las noches
no más se le iba en puro llorar;
dicen que no comía,
no más se le iba en puro tomar.
Juran que el mismo cielo
se estremecía al oír su llanto,
cómo sufria por ella,
que hasta en su muerte la fue llamando:
Ay, ay, ay, ay, ay cantaba,
ay, ay, ay, ay, ay gemía,
ay, ay, ay, ay, ay cantaba,
de pasión mortal moría.
Que una paloma triste
muy de mañana le va a cantar
a la casita sola
con sus puertitas de par en par;
juran que esa paloma
no es otra cosa más que su alma,
que todavía espera
a que regrese la desdichada.
Cucurrucucú paloma, cucurrucucú no llores.
Las piedras jamás, paloma,
¿qué van a saber de amores?
Cucurrucucú, cucurrucucú,
cucurrucucú, cucurrucucú,
cucurrucucú, paloma, ya no le llores
14 Sozinho (03:06)
Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho
Não sou nem quero ser o seu dono
E que um carinho, às vezes, cai bem
Eu tenho meus segredos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha
Quando a gente gosta
E claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana ou não está madura
Onde está você agora
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